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Matéria sobre o Seminário de Identidade e Classe

Por Analice Paron, Bruna Lisbôa Rossi, João Ker e Johanna Beringer.

Múltiplas identidades para a classe

Ouvir e pensar as questões dos trabalhadores dentro da realidade universitária. Esse foi o objetivo da Pró-Reitoria de Pessoal, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre os dias 20 e 22 de maio, durante o Seminário Identidade de Classe.

O evento reuniu docentes, técnicos administrativos e estudantes da universidade para discutir os seguintes temas: “Estado e Serviço Público, a quem servir?”, “Violência nas relações de trabalho e assédio moral” e “Trabalho, produção e distribuição de riquezas”. O público pôde assistir a palestras com convidados que qualificaram os debates, expondo posições importantes e enfrentado polêmicas, discutindo os aspectos do Estado e sua relação com as classes sociais, as práticas danosas contra os trabalhadores e as perspectivas de superação das mazelas sociais em busca de uma sociedade mais justa.

Em 20 de maio, o auditório Horácio Macedo do CCMN sediou o primeiro de três dias do seminário. O evento iniciou-se às 14h, com a Cerimônia de Posse dos novos servidores. Logo após, o palestrante Ricardo Antunes, professor de sociologia da Unicamp, realizou o debate que possuía como tema: “Estado e Serviço Público, a quem servir?”. Agnaldo Fernandes, superintendente de pessoal da PR-4, mediou a palestra, junto a presença do pró-reitor Roberto Gambine. O palestrante preocupou-se em situar os que acabaram de entrar na universidade, através de suas percepções políticas, em relação ao desenvolvimento do Estado Brasileiro, na história do país e no contexto atual e também buscou responder aos convidados sobre seu papel de classe do Estado Brasileiro no cenário nacional.

Já na quarta-feira, 21, a discussão foi sobre violência nas relações de trabalho e o seminário dirigido pela doutora Margarida Barreto, professora da Pontífice Universidade Católica (PUC-SP) e seu principal foco foi o assédio moral. Para abrir a conferência da professora, o Pró-Reitor de Pessoal, Roberto Gambine, falou sobre o crescimento no número de casos violência no trabalho no ambiente público. O servidor defendeu a importância de debates como esse para incentivar resoluções que inibam essa prática na UFRJ.

Após traçar um perfil sobre o tema, Margarida buscou identificar as causas desse abuso, que humilha a vítima assediada. Entre essas, a doutora apontou o atual ritmo de trabalho e de vida imposto pelo capitalismo neoliberal. Hoje o mercado exige excelência, habilidade, competitividade, capacidade, comunicação e individualismo, ou seja, você não pode se importar muito com o outro”, disse. Para Barreto, se o sistema não for alterado, o futuro não será otimista: “Estamos caminhando para uma sociedade da solidão”.

Contudo, segundo a médica, há formas de reverter esse quadro. Construir uma noção de comunidade, mais preocupada com o bem estar de todos é uma das soluções citadas por ela, “A desconstrução do assédio moral é um caminho coletivo”, finalizou.

O último dia do evento, quinta-feira, 22, foi pautado pelas discussões a respeito da distribuição de renda. Os trabalhos foram abertos pelo professor Carlos Ziller, do Instituto de História da UFRJ, que debateu as questões relacionadas a cidadania da população, principalmente os mais pobres. Citou, como exemplo, a resposta aos “rolezinhos” e sua proibição. Ziller também abordou os aspectos alcançados no governo Lula e Dilma e seus impactos na distribuição de renda. Enfatizou, por fim, que o país só avançará se conseguirmos radicalizar os direitos dos cidadãos e a democratização profunda nas relações sociais.

Em seguida, o professor Mauro Iasi, da Escola de Serviço Social da UFRJ, prosseguiu no tema sobre desigualdade social, relacionando essa questão à acumulação do capital. Para ele, as desigualdades na distribuição da riqueza produzida socialmente, são inerentes a esse modo de produção. Para ele, a saída é a construção de um processo revolucionário que rompa com a lógica do capital, em direção ao socialismo e ao comunismo.

O Seminário contou, também, com a presença do professor da Universidade de São Paulo, André Singer, que adotou um posicionamento sobre os limites na correlação de forças na luta entre capital e trabalho, numa análise sobre a atual conjuntura do país. O combate à miséria e as diferenças sociais, na visão de Singer, é um processo que demanda a superação de etapas na construção de uma sociedade mais inclusiva. Porém, o também jornalista, elogiou as medidas alcançadas ao longo dos 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, em especial, como o aumento no salário mínimo que funciona no combate efetivo à pobreza.

Um ponto comum entre os três debatedores, ainda que com diferenças quanto a quais propostas, foi a possibilidade de se apresentar um programa anti-capitalista para a sociedade brasileira, no sentido de se efetivar mudanças necessárias para o país.