Jorgina da Silva, secretária-chefe da coordenação de pós-graduação em Comunicação, é a última entrevistada do especial Profissionais da Educação. Ela trabalha na Universidade Federal do Rio de Janeiro há quase 30 anos.
Neste mês, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre os profissionais da educação de diferentes setores da UFRJ. Eles trabalham diariamente para garantir que a Universidade seja um espaço de formação profissional e cidadã.
“Eu digo que eu dei a minha vida pela UFRJ. Tenho plena consciência de que eu fiz tudo e trabalhei como a instituição esperava de mim”, conta Jorgina da Silva, que aos 67 anos personifica o esforço pela educação durante sua trajetória profissional na UFRJ. Antes de ingressar na Universidade, seu percurso não tinha relação com a educação. A descoberta na área ocorreu por meio de uma conhecida, enfermeira aposentada da instituição. Sua jornada na UFRJ teve início em 1994, quando decidiu fazer um concurso, foi aprovada e passou a trabalhar na Escola de Comunicação (ECO).
Com quase três décadas de dedicação à instituição, Jorgina trabalhou em vários setores. Ela passou pela Secretaria de Ensino de Graduação, atuou no gabinete da Direção da ECO e, posteriormente, foi transferida para a Secretaria de Pós-Graduação, onde permanece até hoje como secretária-chefe. Jorgina exerce múltiplas funções na secretaria, desde atender professores e estudantes até organizar processos seletivos e fornecer informações para avaliações de programas de pós-graduação.
Trabalhar na Escola de Comunicação acarretou mudanças significativas em sua vida, permitindo-lhe envolver-se mais com a educação. “Ingressar no meio onde o conhecimento é gerado traz uma perspectiva diferente da realidade, é estar em contato com uma intelectualidade. Em especial trabalhando diretamente com docentes e discentes, uma vez que o conhecimento está em constante circulação ali”, afirma Jorgina. Ela enfatiza a estabilidade financeira proporcionada pelo cargo, enquanto reconhece a intensidade do trabalho: “Eu trabalho no que gosto, que é trabalhar com público. É um trabalho pesado, porque somos dois funcionários no setor com uma demanda muito grande, mas é uma coisa de que eu gosto particularmente”.
Jorgina é atualmente mestranda no programa de pós-graduação em Comunicação Social na UFRJ. Sua pesquisa se concentra na ancestralidade, explorando as tradições, práticas e saberes transmitidos ao longo das gerações. Ela também planeja explorar as relações entre a ancestralidade e as apropriações midiáticas do conceito, buscando entender esse conhecimento.
A motivação para investir em sua própria formação surgiu tardiamente, ao reconhecer que a busca por qualificação não estava fora de seu alcance. Ela se viu diante da necessidade de progredir e alcançar novos objetivos, não apenas para o presente, mas também para o futuro.
“Agora já finalizando a carreira, eu acho que está em tempo de aproveitar, de investir na minha formação um pouco mais. Não sei se eu vou além do que estou fazendo hoje, mas tenho feito cursos, converso com colegas, trocamos ideias, projetos… Eu não saio sem tentar pelo menos me qualificar melhor. Eu não saio sem que eu consiga galgar mais um lugar. ”
Seu trajeto na UFRJ a fez perceber que havia deixado de priorizar seu próprio crescimento profissional. Ela compartilha: “Desde que entrei para a Universidade, trabalhei em lugares que demandam presença, demandam realmente estar envolvido com o trabalho. Eu me deixei levar por isso, de não sair para outros setores, de não olhar pro próprio futuro da minha própria formação.”
Desafios do Trabalho
É comum que em universidades públicas exista uma diferenciação entre profissionais técnico-administrativos – categoria nas Instituições Federais de Ensino (IFEs) nos níveis fundamental, médio ou superior, dependendo da exigência de cada cargo, como assistente em administração, médico, psicólogo, entre outros – e docentes. Jorgina conta que, no início de sua carreira na Universidade, se sentiu invisibilizada e subestimada devido à sua posição como técnica-administrativa em comparação ao corpo docente. Ela relata que, em algumas situações, os professores sequer a olhavam. “Servidor todos somos, mas existe técnico-administrativo e existe docente. Comigo não tem essa diferença, eu não me dou o direito de que isso ocorra. Mas, que existe, existe”, relata.
Como uma mulher negra, a identidade de Jorgina faz parte de sua jornada. Ela vê a Universidade como um agente de transformação da realidade do seu grupo racial.
“A UFRJ pra mim hoje é um lugar que dá, para parte de pessoas negras como eu, possibilidades de acessar lugares não ocupados. Estar ali pelo bem da educação, por uma carreira e por um futuro.”
Jorgina observa mudanças na UFRJ ao longo dos anos, como a entrada de novas gerações e tecnologias. Ela vê tanto desafios quanto oportunidades nesse processo de renovação e crescimento, ao mesmo tempo em que percebe a Universidade envelhecendo.
Para ela, o sentimento de gratidão é o que resume sua história com a educação. “A UFRJ, significa e significou muito na minha vida e me deu muita visão, crescimento. Eu agradeço muito por estar neste lugar, por estar dentro desta instituição.”
Sob supervisão de Vanessa Almeida.